Crônica - O Velho Homem

O velho homem

(Ceciliano Queiroz; 18/09/05)



Agora ele está ali, sentado na cadeira de balanço enquanto descansa de um fardo que o acompanhou durante toda sua vida. O velho homem que agora respira calmo, e sem pressa, um dia quisera estar ali, exatamente onde está. Mas não, ele apenas não só desejou, como realizou. Agora há pouco. O grande homem que sempre foi, nunca despertou o real interesse daqueles que gostaria, daquelas garotas que desejou. Agora o velho homem, termina de degustar o último gole de café da caneca. Termina por fim, se concretizando em pensamentos loucos e desordenados de vícios e vontades de toda uma vida.
Enquanto a cadeira vai-e-vem, seus pensamentos podem ser vistos daqui, em forma de fumaça. A mesma fumaça que sempre o acompanhou em dias tristes e infelizes, cheios de pesares e falta de coragem. Não, o velho homem apenas quis ter uma vida boa, espelhada talvez em algum outro grande homem, que não fosse seu pai, ou antepassados. Todos frustrados, todos encolhidos em desejos reprimidos por dias longos e decadentes. Coragem, palavra doce que sempre lhe faltou; defesa - desculpa sempre útil àquilo que não conseguia realizar. Pobre velho homem, agora ali sentado, devolvendo a caneca ao apoio da mesa, finalmente compreendeu o grande fim que o aguarda. “O grande fim”, algo em sua vida seria grande um dia, nem que fosse no último.
Enquanto perdura todos os seus sonhos eróticos e intelectuais, a fumaça o encobre, o faz ver diante de si as imagens de tudo o que poderia ter feito, mas não fez.
Sempre preso em si, dentro de cápsulas descartáveis de incoerencia e podridão. Dentro de perfeito cavernáculo de vontades infindáveis sem expressão.
Pobre velho homem, teve tudo e não viu nada; pôde tudo mas não fez nada; deteve todos os direitos de uma boa vida, mas nada fez. Sonhou como todos, realizou pouco como muitos e agora, ali, sentado naquela cadeira, me lança um olhar de adeus, como que pedisse desculpas à mim, em imagem de si mesmo.

Desligo o computador, apago as luzes, o cubro com seu lençol preferido – o que usou em sua última noite de amor, com aquela garota perfeita que veio e se foi pra longe outra vez, há vinte anos.
Vou deitar, preciso dormir, descansar é o que faremos de similar. O que nos difere é que acordarei em poucas horas, enquanto que ele estará em plena jornada ao desconhecido que tanto desejou.

Comentários

Unknown disse…
muito profundo. o velho homem é um reflexo progressivo do novo...

Postagens mais visitadas