Solitude


Enfim aquilo não lhe parecia certo. Todo o glamour das grandes batalhas emotivas e solitárias, haviam por fim perdido o sentido. Viu-se diante de si em frente a um espelho desbotado e velho de um quarto sujo de motel. Sozinho ali, sem ninguém, nem que o acompanhasse, nem que o quisesse, descobriu finalmente o valor perdido das coisas que deixou acontecer à sua vida, e lamento pelo que acontecera na dos alheios que tanto lhe dedicaram carinho e atenção. Sentiu-se ruim, pior que isso: vazio. Uma leve dor no peito começou a surgir, e aos poucos foi escorrendo por todo o resto do corpo; era a dor do arrependimento, a dor dos fracos egoístas que um dia, foram grandes. Onde havia se perdido? Por onde o caminho se foi? Talvez o atalho escolhido não tenha sido a melhor escolha, talvez. Mas de fato, era um homem agora, envergonhado diante do mundo normal onde marionetes comandam; deveria sentir-se orgulhoso, mas não sentiu. Somente aquela dor maldita era o que podia perceber. “Me perdi quando comecei a olhar mais pra mim, a tornar-me mais egoísta”, pensou enquanto o suor escorria de sua testa. Definitivamente precisava de um trago, uma dose, ou qualquer outra coisa artificial para aliviar a agonia de ser quem era. Carinhos já não eram mais bem quisto, fazia parte de uma encenação em que desaprendera a atuar, de um mandamento dos “úteis ao mundo”. Com atenção observou melhor aqueles olhos que o fitavam na penumbra vazia que lhe cercava. Silêncio ali, e um murmuro de uma foda qualquer, em um dos quartos vizinhos. Piscou. Girou os olhos em torno de si, quis que fosse mentira, quis estar com os amigos ou nos braços daquela garota legal que tanto lhe quis. Quis, mas não estava mais. Agora era chegada a hora do acerto entre si. Medo. Ansiedade. Então, embriagado com seus pensamentos e tormentos, lançou o punho cerrado de encontro àquela superfície fria, despedaçando-a diante de si. Sangue. Encolhido numa posição fetal, onde imaginou ser de perdão, viu o fluido quente e rubro lentamente esvair-se, como prisioneiros inertes na grande visão de liberdade. Leve. Frio. Escuridão.



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