Fazendo planos

A gente passa a vida inteira fazendo planos. De maneira metódica, nos precavemos dos males que poderão nos atingir, dos erros que poderemos cometer e dos caminhos tortuosos que possamos seguir. É tudo sempre feito dentro de um limite imposto por nós mesmos, de dentro pra fora...


Quando criança, acreditava que o mundo era algo tão imenso, que eu jamais o conheceria por completo, dessa forma, passei a querer conhecer o mundo fora do mundo. Então, aos poucos fui percebendo que para conseguir isso, teria que sair dele, voar, subir. Nunca quis ser aviador, astronauta, espaçonauta ou qualquer outra coisa “nauta”. Quis ser astrônomo, e assim, poder ver de longe o que me aprazia de forma tão próxima.


Mas a vida tem dessas coisas e essas mesmas coisas são coisas que a vida nos traz, somente porque as buscamos. E somos sim, responsáveis pelo que somos.
O tempo vai passando, os medos vão surgindo e com eles, a necessidade de domá-los, de nos precaver. Então, surgem as vontades e em seguida a forma de domá-las. É tanta precaução, que acabamos por nos enclausurar dentro de nossos próprios medos e cuidados, e acabamos por esquecer que viver é bom.
E o tempo continua passando, e então vamos seguindo nossos preceitos criados a ferro e força por nós mesmos. Passamos a culpar o mundo, as pessoas, à má ventura e responsabilizamos tudo isso ao mau quinhão. Começamos a esquecer de quando achávamos que o mundo era algo grandioso e possível de se ver. Esquecemos dos tempos em que figuras animadas na TV significavam tudo o que precisávamos para viver e entender, além de nos fazer ir buscar mais além do que tínhamos.
Começamos a fazer planos. Criamos então, o mundo perfeito dentro de quatro paredes. Criamos o que achamos ser mais relevante para que possamos nos conformar e ter uma vida tranqüila – trancados, mas tranqüila.
Esquecemos de amar. Aliás, essa palavra é motivo de temores e assombros, porque remete ao sofrimento em sua falta. Tem gente que diz que mede o amor, pelo tamanho da dor que ficará no final. Esquecem que os sentimentos funcionam de forma esporádica e pontual. Que são magnitude, clímax e exaustão. Não podem ser medidos ou mensurados. Esquecem que enquanto não se sente, de maneira surpreendente, acabam por nada sentir e sentir-se.



Durante toda uma vida criamos métodos, conceitos, e no final das contas, acabamos percebendo que bastavam pequenas coisas para nos satisfazer.
A gente passa a vida inteira fazendo planos. De maneira metódica, nos precavendo dos males que poderão nos atingir, dos erros que podemos cometer e dos caminhos tortuosos que possamos seguir. É tudo sempre feito dentro de um limite imposto por nós mesmos, de dentro pra fora, e acabamos por esquecer que a vida é curta e que quando menos se espera ela vem e nos atropela.
Ah sim, antes que eu esqueça, liberdade é ter os limites sempre de fora pra dentro.

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