Insurreição - trecho

Eis aqui, um trechinho do meu mais novo texto. Ainda sem definir se será um conto, crônica ou romance, só sei que o bicho tá "andando".
Acho que o prazer de escrever está de volta em minha vida.

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Anos a fio sem entender como funcionava a natureza humana. Anos a fio sem querer se sentir parte de um processo junto aos de sua espécie. Tanto tempo respirando e habitando esse plano terreno, e o que mais se importava era com os seus afazeres e conquistas pessoais. O egoísmo era como um ser presente, ativo e necessário em seu viver.
Nunca pensou em como seria viver em harmonia com outro ser humano; jamais cogitou estar interagindo com alguém. Ele não podia compreender o valor de um aperto de mão, um abraço ou afago. Mal sabia ele que estes gestos sempre dizem algo, sempre se pode falar por eles – a comunicação existe e é mais eficiente do que a com palavras.
Mas isso não importava muito para ele. No mais, ter como se sustentar sem ter que dar satisfações e ou não ter que tomar alguma atitude em prol do próximo, era mais que suficiente para viver. Porém, o que ele não sabia era que isso não significaria nada após essa fase.

Os olhos ardiam com sua tentativa de abri-los. Aos poucos foi respirando com mais vagar e começou a sentir sua pele ir esfriando, sem mais a sensação de queimor que sentira antes. Incrivelmente sentiu suas forças voltando numa velocidade espantosa porém, ainda podia sentir aquele forte dor no peito, que vinha e ia aleatoriamente.
Um grande parque verde se fez em sua frente. Um campo de grama fresca, árvores e frescor o rodeavam. Ele não entendia onde estava, sequer sabia da hora e o porquê de estar ali.
Ainda desorientado, começou a caminhar em direção ao pequeno lago à sua frente. Sentia sede, e debulhou-se para beber um pouco daquela água. Foi então que tomou um enorme susto ao ver sua imagem refletida no espelho; estava velho, quase sem expressão em seu rosto. O pavor tomou conta de seu peito, que começou a doer novamente. Sentou incrédulo com o que via. Debulhou-se novamente e viu aquela imagem horrorosa de si. Não por estar apenas velho, mas por estar aparentemente sem vida.


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